Cidades do futuro já estão em construção

Para o indiano Yeswant Abhimanyu, de 27 anos, especialista em cidades inteligentes, as gerações mais jovens já estão empregando alguns conceitos da metrópole do futuro, com menos carros e mais transporte compartilhado, e essa nova forma de planejamento urbano tem gerado uma série de oportunidades de negócios – desde o uso cada vez maior de aplicativos de transporte à volta do mercadinho de bairro.

O conceito de cidades inteligentes e com mais mobilidade está deixando de ser algo distante?

Se olharmos para São Paulo, por exemplo, onde moro há cerca de quatro anos, as mudanças são enormes. Há mais avanços em alternativas de mobilidade, mais investimentos em infraestrutura. Hoje, discute-se a melhor forma de construção de ciclovias, uso de carros compartilhados. Tudo isso é novo, mas está acontecendo.

Mas essas modificações, como a ampliação de ciclovias, ainda enfrentam resistência…

De certa forma, mas eu não chamaria de resistência. Acredito que essas reações negativas são parte do desafio de se renovar o espaço urbano. Estamos falando de uma mudança cultural – e modificações culturais nunca são tão simples.

Esse conceito também vai trazer oportunidades de negócios?

Já está trazendo. Há oportunidades em energia, em mobilidade, em infraestrutura, saúde, educação. A tendência é que as cidades vejam o morador como um consumidor. Há exemplos, como o Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, em que o espaço urbano é modificado para que o cidadão possa tirar melhor proveito dele, com comércio, transporte, espaços culturais. Em São Paulo, podemos perceber fenômenos espontâneos, como a volta dos mercadinhos de bairro, mesmo sob a bandeira de grandes redes, em áreas bem urbanizadas ou o sucesso de aplicativos como o Uber. Esses são exemplos concretos do quanto o mercado pode se beneficiar quando entende as novas demandas do consumidor.

Há uma nova geração que parece se preocupar menos em ter carros do que em viver em locais com opções de transporte compartilhado. Ela irá acelerar a mudança do conceito de cidade?

A questão é que essa nova geração, e esse é um fenômeno global, é mais aberta a utilizar os recursos que a cidade tem a oferecer. Ela quer melhorias no transporte público, poder deixar o carro em casa durante a semana e usar o transporte coletivo ou aplicativos. De muitas formas, as cidades do futuro já estão em construção. Os jovens estão bem próximos desses conceitos, querem ser parte da solução e não contribuir para o agravamento dos problemas urbanos. Paralelamente, assistimos em todo o mundo, inclusive no Brasil, ao envelhecimento gradativo da população. Vai ser preciso haver uma mudança em como as cidades serão desenhadas para seus moradores.

A busca por cidades mais integradas à tecnologia já tem afetado os lançamentos do mercado?

Sim, sem dúvida. O impacto dessa nova maneira de imaginar o espaço urbano é visível no mercado imobiliário. Os novos edifícios já são pensados para abrigar um espaço de coworking (ambiente compartilhado de trabalho), por exemplo, prevendo que a tendência será que as pessoas trabalhem mais a partir de casa e usem escritórios virtuais. Se pensarmos que, há apenas algumas décadas, seria impensável construir um condomínio sem vagas de garagem, a mudança de postura do mercado imobiliário realmente impressiona. As construtoras vão ter de se adaptar ao novo consumidor, mais consciente dos problemas de poluição, interessado em ter acesso a espaços de lazer para praticar exercícios e buscando formas de ser mais saudável. Além de preocupado em ser um cidadão melhor.

Por Douglas Gavras

Fonte: O Estado de S. Paulo, Economia, 30/03/2017

Jaime Lerner: “Brasileiro fica encantado com cidades europeias, mas não reproduz soluções aqui”

O urbanista Jaime Lerner, conhecido pelas soluções que levaram Curitiba a ser considerada “cidade modelo” na década de 1990, defende uma revisão da concepção de cidade pelo poder público e pelos brasileiros que vivem em áreas urbanas. Em entrevista à BBC Brasil, o arquiteto diz que o encantamento dos brasileiros com cidades no exterior se dá por soluções que nem sempre são bem-vindas quando aplicadas no Brasil, como a ênfase no transporte público e na bicicleta como meio de transporte e a convivência de populações de diferentes perfis socioeconômicos nos mesmos bairros.

“Ele [o brasileiro] fica encantado, mas não reproduz as soluções aqui. Quando chega de volta ao Brasil, volta a querer separar, dar prioridade ao automóvel, volta a se entregar a soluções que não vão fundo no problema”, afirma o ex-prefeito de Curitiba (1971-1974, 1979-1983 e 1989-1992) e ex-governador do Paraná (1995-2002).

Lerner defende ações rápidas e pontuais para resolver os problemas das cidades – classificadas por ele como “acupuntura urbana” – e que demandam, diz ele. coragem e iniciativa das autoridades.

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Quais são as novas regras do Minha Casa Minha Vida

Foram publicadas no Diário Oficial da União desta sexta-feira as novas regras do Minha Casa Minha Vida. Os novos critérios de seleção referem-se à faixa 1 do programa, que atende famílias com renda de até R$ 1,8 mil. Entre as principais novidades a inclusão de municípios com população inferior a 50 mil habitantes.

Veja em 5 pontos quais são as principais mudanças:

1. A partir de agora, a modalidade Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) chegará aos municípios com população inferior a 50 mil habitantes.

2. As melhorias também tratam da inserção urbana: quanto maior a proximidade de bairros já consolidados, melhor será a avaliação do empreendimento. Aqueles que apresentarem condições de contratação imediata terão prioridade, em função da possibilidade de geração de emprego e renda em curto prazo.

3. Estados e municípios que doarem o terreno para a construção do empreendimento também serão os primeiros da fila.

4. Serão 500 unidades por conjunto habitacional. É possível haver agrupamento de até quatro prédios. Antes, a quantidade de unidades por empreendimento era flexível e os conjuntos chegavam a ter mais 5 mil unidades.

5. A prioridade de atendimento para todas as modalidades será para famílias residentes em áreas de risco ou insalubres que tenham sido desabrigadas, além de mulheres responsáveis pela unidade familiar e pessoas com deficiência.

Barcelona cria ‘superilhas’ para tirar carros das ruas e reduzir poluição

Um projeto da Prefeitura de Barcelona, na Espanha, criou superquadras (“superilles” em catalão, ou superilhas) com o objetivo de reduzir o uso de veículos e fazer com que o espaço público seja recuperado pelos cidadãos.

O trânsito já foi reduzido ou cortado na primeira “superilha”, formada pelos cruzamentos de nove quadras. Onde antes só passavam veículos, agora há parque infantil, palco para atividades culturais, quadras esportivas e até um parlamento pintado no chão.

O projeto-piloto começou em setembro passado no bairro de PobleNou. Já estão previstas mais cinco “superilhas” em outras áreas até 2018, um investimento de 10 milhões de euros (mais de R$ 33 milhões). A intenção da prefeita Ada Colau é implantá-las em toda a cidade.

  • Janet Sanz, vice-prefeita de Barcelona na área de Ecologia, Planejamento Urbano e Mobilidade, explica que a ideia nasceu há algum tempo, mas só começou a ser implantada agora por causa do aumento da poluição do ar, além da necessidade de gerar mais espaço público para diferentes atividades.

Carros demais

A poluição é um grave problema local.

Segundo a prefeitura, Barcelona é a cidade europeia com maior densidade de carros – diariamente, mais de 500 mil veículos entram e saem do município, que tem 1,6 milhão de habitantes.

Todo ano, são registradas 3,5 mil mortes prematuras decorrentes da contaminação atmosférica, além de 31 mil casos de bronquite em crianças e 54 mil ataques de asma.

BarcelonaDireito de imagemISTOCK
Image captionIdeia é que projeto seja ampliado para toda a cidade

A administração municipal defende que, para reduzir a poluição do ar, é preciso desestimular o uso de veículos, fomentar um transporte público mais econômico e ecológico e implantar as “superilhas”, que proporcionarão mais zonas verdes na cidade.

Moradora da primeira “superilha”, Silvia Casorrán, de 37 anos, avalia o projeto de forma positiva. “Estou convencida de que a cidade tem de mudar o modelo de mobilidade, para reduzir a poluição que respiramos e mudar a forma como nos locomovemos”, afirma.

Salvador Clarós Ferret, presidente da associação de moradores do PobleNou, ressalta que o projeto vai transformar a mobilidade e o espaço urbano.

Para ele, a “superilha” propõe uma dinâmica contrária à da maioria das cidades. O congestionamento, afirma, “não se soluciona ampliando ruas, mas reduzindo o tráfego de veículos e forçando uma mudança de hábito”.

Afetados pela ‘superilha’

O projeto também recebeu críticas de parte dos moradores e comerciantes, que criaram a Plataforma dos Afetados pela Superilha.

Eles reivindicam o direito de decidir sobre o uso das ruas.

A principal reclamação do grupo é que algumas ruas se tornaram exclusivas para pedestres e outras do entorno não. Outra queixa é dos comerciantes, principalmente donos de restaurantes, que acreditam que a redução do trânsito pode prejudicar seus negócios.

Edifícios adotam soluções para seus idosos

Enquanto as incorporadoras ainda esperam melhores condições econômicas para lançar empreendimentos voltados às pessoas idosas, com infraestrutura acessível e serviços de geriatria e fisioterapia, por exemplo, condomínios se adaptam para promover melhor qualidade de vida para os idosos que já moram lá.

É o caso do Mofarrej, condomínio na Vila Mariana, que instalou um novo playground – não para as crianças, e sim para os cerca de 30% dos seus moradores que já têm mais de 60 anos. O síndico do prédio, Carlos Humberto Correia, conta que a ideia partiu do morador Henrique Wuilleumier, de 85 anos. “Quando a idade chega, percebemos que é preciso se exercitar mais. Eu vi que havia um gramado disponível na área comum do condomínio e sugeri que fosse instalado uma academia ao ar livre para a terceira idade”, conta Wuilleumier.

O parquinho foi um projeto da empresa Playlong, que surgiu inspirada em aparelhos de ginástica chineses. O proprietário, Artur Henrique Carvalho, que morava em Araras, interior de São Paulo, levou o projeto para a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro.

Lá, em conjunto com idosos e alunos de educação física do Instituto de Biociências, estudaram a importância da atividade física para as pessoas mais velhas e desenharam uma série de aparelhos de ginástica. “Pensamos na flexibilidade, força e capacidade de quem envelhece; e também na leveza, altura e ergometria da academia”, diz Carvalho.

Para instalar os 14 equipamentos da empresa, um condomínio gasta cerca de R$ 26 mil. O pacote com sete aparelhos custa R$ 16 mil. É preciso uma área de lazer, de preferência a céu aberto e em área de sombra. A academia é chumbada ao chão.

“Defendo que os prédios integrem os moradores idosos. Muitas vezes, eles não querem saber da molecada que faz barulho e não têm um espaço próprio para interagir e se integrar que não seja o elevador. O playground da longevidade é uma possibilidade de distração.” Carvalho diz que já viu casal de idosos se formar em um dos condomínios onde instalaram o projeto.

Além do parquinho, o condomínio Mofarrej também adotou itens de acessibilidade, como rampas, cadeiras de roda e suporte para atender moradores que precisam de atendimento médico domiciliar.

Cidades têm empreendimentos voltados para esse público

Um empreendimento imobiliário voltado para pessoas a partir de 50 anos de idade (embora só seja considerado idoso quem tem mais de 60 anos) foi erguido no interior de São Paulo. Trata-se do condomínio da Associação Geronto Geriátrica de São José do Rio Preto (Agerip), que é o lar de 600 pessoas. O conjunto tem três tipos de moradia: apartamentos, suítes e chalés.

Nos dois primeiros modelos, o morador tem acesso a todas as refeições, limpeza, atividades físicas, cognitivas e ocupacionais, enfermaria, terapia, geriatria e assistência social. Todas as unidades são térreas.

Para morar, é preciso pagar cerca de R$ 15 mil pelo título de associação à Agerip e mais a mensalidade e o aluguel, que juntos, variam de R$ 3.500 a R$ 7.700, para uma ou duas pessoas. As unidades variam entre 25 m² para suítes e 60 m² para os apartamentos.

Os chalés são construídos ao gosto dos idosos, que pagam pela associação e pelo terreno. As casas devem ter entre 60 m² e 160 m² e seguir as normas de acessibilidade da ABNT. Podem morar casais, irmãos, amigos ou mesmo apenas uma pessoa. Quem mora nessa área tem acesso à área comum, onde são realizadas as atividades físicas e de lazer. Serviços médicos e de cuidadores devem ser pagos a parte, assim como os R$ 260 de condomínio e os R$ 298 da manutenção do título.

Por Caroline Monteiro

Fonte: O Estado de S. Paulo, Radar Imobiliário, 19/03/2017

Deu certo

Os números do mercado imobiliário são de chorar. Somente no ano passado quase 650 construtoras e incorporadoras entraram em recuperação judicial. O crédito secou e as linhas disponíveis custam caro. Muita gente que comprou casa ou apartamento na planta nos bons tempos decidiu devolver o imóvel às incorporadoras – ou porque não vai conseguir pagar ou porque encontra opções mais baratas no mercado hoje, depois da queda dos preços. Os otimistas de plantão costumam dizer que é na crise que surgem as oportunidades. Parece um blá-blá-blá sem nexo quando se olha um cenário tão desolador – mas, no caso do mercado imobiliário, isso aconteceu mesmo. Enquanto as maiores empresas do setor lamentam, startups criadas nos últimos cinco anos estão ganhando dinheiro com negócios que surgiram, ou cresceram, justamente por causa da situação ruim do setor.

Um exemplo é o site de vendas RealtOn, em que são anunciados apenas os imóveis encalhados das incorporadoras (estima-se que existam em torno de 120 mil imóveis nessas condições). Quando os estoques começaram a aumentar, em 2012, o paulistano Rogério Santos, que trabalhava na área de marketing da incorporadora Tecnisa, decidiu criar o site.

“Avaliamos os imóveis e o mercado e colocamos um desconto para conseguir vender”, diz. A RealtOn cobra uma comissão que varia de 4% a 8% do valor da venda. Em 2016, obteve um faturamento estimado em 20 milhões de reais. Outro profissional do mercado imobiliário que decidiu mudar por causa da crise no setor é Saulo Suassuna, herdeiro da incorporadora Suassuna Fernandes, fundada em 1977 em Recife. Em 2015, depois de fazer um curso sobre cidades inteligentes no Massachusetts Institute of Technology (MIT), ele criou um mecanismo que permite construir prédios cujos apartamentos são divididos em módulos independentes. Assim, é possível comprar uma unidade menor e acrescentar módulos com o tempo – ou diminuir o tamanho se o dinheiro encurtar.

O primeiro prédio com esse sistema está sendo construído em Recife – segundo Suassuna, 90% dos apartamentos foram vendidos. Ele patenteou a ideia e montou uma startup que licencia esse sistema de construção, a Molegolar. Hoje, tem parcerias com 31 incorporadoras, entre elas a Brookfield e a Rossi. “As pessoas estavam desistindo de comprar porque queriam um apartamento maior e não tinham dinheiro. Também existe a demanda de quem quer flexibilidade  e pode precisar de um imóvel de tamanho diferente 110 futuro”, diz Suassuna.

Enquanto alguns empreendedores se planejaram para tentar ganhar dinheiro com a crise, outros estavam no lugar certo na hora certa. É o caso dos fundadores do site Quinto Andar, que reúne anúncios de aluguel de imóveis em oito cidades no estado de São Paulo. Todo o processo de locação é feito online: não é preciso ir ao cartório para fazer o registro do contrato, por exemplo. A startup foi fundada em 2013, mas o maior crescimento aconteceu no ano passado, segundo os fundadores, André Penha e Gabriel Braga, que se conheceram num MBA na Universidade Stanford (eles não informam o faturamento).

“Criamos a empresa para simplificar a locação, um serviço burocrático no Brasil. Mas o momento ajudou, porque, sem dinheiro, mais pessoas passaram a alugar em vez de comprar”, diz Braga. Em 2015, a Quinto Andar recebeu a primeira rodada de investimentos, de 7 milhões de dólares, liderada pelo fundo argentino Kaszek Ventures. No fim do ano passado, recebeu mais 13 milhões de dólares de um consórcio. Recentemente, a empresa buscou parcerias com incorporadoras que decidiram alugar em vez de vender o que constroem. A primeira delas foi fechada com a Vitacon, de São Paulo.

De olho no sucesso alheio, outros empreendedores estão criando produtos e serviços voltados para o mercado imobiliário. A 3W, de Brasília, está desenvolvendo um software de realidade virtual para permitir que os interessados em comprar um imóvel novo possam “visitar” uma unidade decorada apenas colocando os óculos que projetam as imagens. Se a ideia pegar, as incorporadoras poderão montar pequenos estandes de vendas, mais baratos, em diferentes lugares, como shoppings.

A Urban 3D, de São Paulo, está testando uma tecnologia de construção de imóveis pré-fabricados com o uso de impressoras 3D. Para quem precisa de crédito, a Urbe.me, de Porto Alegre, levanta recursos para financiar parte da construção de imóveis por meio de crowdfunding: o dinheiro é captado de forma pulverizada com centenas de pequenos investidores, que podem aplicar a partir de 1000 reais nos projetos. O rendimento depende do lucro gerado pelo empreendimento – na primeira construção, um prédio residencial em Porto Alegre, o retorno foi de 21% ao ‘ ano, segundo os donos da Urbe.me. Nada mau para um mercado em crise.

Por Patrícia Valle

Fonte: Exame, Negócios, 16/03/2017

Setor da construção pronto para uma virada

Depois de três anos consecutivos de drástico encolhimento, o mercado da construção civil na capital paulista está a caminho de uma virada em 2017, podendo crescer de 5% a 10% em relação ao ano passado, segundo o presidente do Sindicato de Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Flávio Amary. Em sua visão, chegou ao fim o ciclo de baixa do setor e já se iniciou um ciclo de recuperação, o que é animador para a atividade econômica, com maior movimento em toda a cadeia fornecedora do setor e contração de mão de obra.

É verdade que a reação é moderada, já que a base de comparação é baixa, pois em 2016 houve queda de 23,6% nos lançamentos e 19,7% nas vendas de imóveis residenciais. Mas, considerando a existência de uma demanda reprimida e a queda da inflação e dos juros, o crescimento pode ser mais vigoroso. O economista Celso Petrucci afirma que o Secovi cogita rever para cima as projeções de expansão: “Nos meses anteriores, nós considerávamos a possibilidade de rever essa projeção para baixo. Agora, se mudarmos a projeção, será para cima”.

O aquecimento da demanda terá reflexo sobre os preços dos imóveis novos, que tendem a aumentar em torno de 10%, se confirmadas as condições que se desenham no mercado. Lembra-se, a propósito, que os preços dos imóveis em geral tiveram queda de 3,8% em 2015 e praticamente permaneceram estáveis em 2016, com reajuste médio de 0,1%.

O mercado, portanto, ainda está muito favorável aos potenciais compradores. No fim de 2016, havia em São Paulo um estoque de 24,1 mil unidades habitacionais, contando lançamentos de imóveis na planta, em obras e recém-construídos.

Muito se fala sobre o volume de cancelamentos dos contratos de compra e venda de imóveis, os chamados distratos, que chegaram a representar 20,5% das transações com imóveis ao fim de 2016. Em vez de devolução dos valores já pagos aos incorporadores, o Secovi defende a adoção de mecanismos para facilitar a revenda ou leilão de imóveis mantendo as regras em vigor para tais casos. Seja como for, à medida que a economia se recuperar e os imóveis se valorizarem, a proporção de distratos tende naturalmente a cair.

Fonte: O Estado de S. Paulo, Editorial Econômico, 17/03/2017

Três cidades que usaram o urbanismo para se reinventar

Bruxelas

Foi na capital da Bélgica que o novo pensamento urbanístico nasceu. A pós-doutorada em geografia urbana e plano espacial pela Universidade Saint-Louis de Bruxelas, Sofie Vermeulen, explica que a cidade adotou, no início dos anos 2000, um planejamento urbano capaz de a transformar em metrópole internacional. Desde então, além das políticas bem-sucedidas de mobilidade urbana e descentralização de serviços públicos, Bruxelas trabalha na revitalização de áreas centrais. O status de cidade cosmopolita atrai cada vez mais turistas de negócios, além de variados congressos mundiais.

Foto: Bigstock

Cidades têm de acompanhar o ritmo da sociedade. Por isso, se reinventam. Ou deveriam. Pois, quando o pensamento urbanístico é deixado de lado, os problemas aparecem. A falta de acessibilidade, a centralização de serviços públicos, o pouco estímulo ao uso do espaço urbano e até a violência são alguns dos pontos que acometem as cidades mal planejadas.

Pensando nisso é que arquitetos e urbanistas europeus e norte-americanos se reuniram em 2003 para discutir e estabelecer o novo urbanismo, com base em casos que deram certo e antes que se instaurasse o caos.Afinal, o pensamento vigente de organização não atende mais às necessidades das metrópoles contemporâneas.

Após essa primeira reunião, o Conselho Europeu de Urbanismo foi criado. Os arquitetos belgas Christian Lasserre e Joana Alimanestianu, e Lucien Steil, de Luxemburgo, passaram a liderar o novo movimento de urbanismo, que se inspira em alguns bons exemplos, como Tapiola, na Finlândia, Bruxelas, na Bélgica, e Bogotá, na Colômbia, cidades que criaram soluções simples, mas impactantes para a vida contemporânea.

E na base do novo urbanismo, estão aspectos como minimizar os efeitos da urbanização dispersa; estimular o uso misto do espaço urbano; valorizar a circulação de pedestres; incentivar o uso da bicicleta; dar máxima atenção às demandas da comunidade organizada em pequenos núcleos ou distritos; e preservar os bens de interesse histórico, por meio da atribuição de usos atuais para os espaços incorporados ao projeto urbano.

Bogotá

Atualmente com sete milhões de habitantes, a capital da Colômbia chamou atenção pela forma com que diminuiu o índice de violência urbana. De acordo com informações do governo local, Bogotá baixou de 82 para 16 homicídios por 100 mil habitantes entre 1998 e 2008. Para o ex-prefeito da metrópole, Enrico Peñalosa, que esteve no Brasil em 2010 para explicar o processo, a razão principal para a solução da violência urbana foi a mobilidade. Criou-se um sistema binário de transporte urbano, com canaletas exclusivas para os ônibus e priorização de pedestres e ciclistas nas vias da cidade. “O estacionamento não é garantido constitucionalmente. Se há carros estacionados numa rua, o governo pode tira-los e fazer uma ciclovia”, explica. E foi essa uma das soluções colocadas em prática por lá.

Foto: Bigstock

Tapiola

Fundada em 1953, Tapiola foi planejada para ser uma cidade-jardim. Isso foi um reflexo do pós-guerra, quando a Europa passou a tratar da preservação e conservação de bens naturais. A cidade-jardim, localizada na costa sul da Finlândia, convida os cidadãos a interagir com o sistema de espaços livres e verdes e desenvolvimento sustentável. Essa relação, para o mestre em projeto urbano pela Graduate School of Design da Universidade e Harvard, Adilson Macedo, recuperou o potencial imobiliário de algumas regiões e descentralizou serviços e comércio.

por Eloá Cruz – Gazeta do Povo

Parques urbanos: conheça 10 cidades que reinventaram pontes e rodovias

Seja por iniciativa pública ou privada, os parques urbanos devolvem aspectos humanos e sustentáveis às cidades. Confira a seleção de projetos em diversos cantos do mundo

Mobilidade tem sido uma questão cada vez mais discutida em fóruns mundiais e prefeituras de todos os cantos, assim como tornar espaços públicos mais habitáveis e seguros. Por falta de verba ou simplesmente para aproveitar o que já estava construído, megaestruturas como rodovias, pontes e viadutos viraram objeto de estudo para incorporar aspectos humanos e sustentáveis às cidades – e assim surgiram os parques urbanos.

Confira 10 cidades que se tornaram exemplos pela iniciativa de devolver aos habitantes espaços de convivência, natureza e arte em meio à selva de concreto

Madrid

Procurando recuperar as margens do Rio Manzanares, foi lançado em 2000 o projeto Madrid Río, que traria mobilidade urbana e sustentável à região da autopista M-30. A via ainda contava com construções históricas, como a Puente de Segovia, ponte mais antiga da cidade, e a Puente Del Rey, que cruzava o rio.

Assim, o projeto buscou preservar a história arquitetônica da cidade em conjunto com a criação do parque. Trechos da autopista foram demolidos, dando lugar a túneis subterrâneos, e acima deles um extenso parque linear foi inaugurado em 2011, com áreas de lazer, ciclovias, espaços infantis, instalações culturais e espaços informativos sobre a história de Madrid.

Foto: Wikimedia Commons/Reprodução

Seul

Frente ao impacto ambiental causado pela autoestrada Cheonggyecheon, que trouxe poluição e contaminação ao canal que leva o mesmo nome da via expressa, o prefeito de Seul lançou em 2003 um projeto para demolir a construção e revitalizar o córrego.

A empreitada, que durou três anos e custou 300 milhões de dólares, entregou à cidade um parque linear de 400 hectares, com peixes, pássaros e outros insetos retornando à região. Hoje, o espaço tem temperatura aproximadamente 3,6ºC mais baixa do que outras partes de Seul, se tornando um lembrete às gerações futuras da importância do desenvolvimento urbano sustentável.

Foto: Wikimedia Commons/Reprodução

Chicago

Criado pelo cineasta Jack Newell e designer Seth Unger, “The Wabash Lights” tem como objetivo trazer arte à linha elevada do trem que fica sobre a Avenida Wabash.

O projeto pretende instalar 24 mil luzes de LED na linha de trem, tornando-se uma escultura iluminada que permite aos habitantes e turistas interagirem com a sequência de cores através de aplicativo ou mensagem de texto. Até agora, um trecho piloto foi desenvolvido graças à plataforma de crowdfunding Kickstarter, que arrecadou 60 mil dólares.

Foto: The Wabash Lights/Divulgação

Houston

Um parque urbano de 160 hectares foi criado sob a Rodovia I-45 com diversos percursos para pedestres e ciclistas, além de instalações de arte e trechos com patos, tartarugas e peixes.

Inaugurado em 2006, o projeto do escritório SWA Group corrigiu problemas de erosão e enchentes da região, revitalizou caminhos d’água naturais e permitiu um contato mais próximo com o Rio Buffalo Bayou, que corta a cidade, através de duas pontes para pedestres.

Foto: SWA Group/Divulgação

Washington

A fundação NoMa Parks, nomeada através do nome de um bairro de Washington, tem como iniciativa revitalizar espaços de passeio que são pouco aproveitados pelos habitantes. Em 2014, a entidade lançou um concurso internacional para que quatro pontos da região fossem transformados com instalações de arte.

Um dos projetos vencedores, que está em andamento, foi feito em parceria pelos escritórios Thurlow Small Architecture & NIO architects. Intitulado de “Rain”, uma instalação de luzes de LED que remetem à chuva será anexada sob a trincheira da M Street. A intenção, segundo declaração dos escritórios, é criar “um lugar onde os pensamentos possam se dispersar”.

Imagem: Thurlow Small Architecture & NIO architects/Divulgação

São Francisco

Antes local da autoestrada California 480, o Pier Freeway foi criado após a demolição da via de dois andares, danificada pelo terremoto que atingiu a cidade em 1989. Um parque urbano já estava sendo cogitado para o local antes do evento, mas apenas após o abalo sísmico foi que a ideia seguiu em frente.

Hoje, a região abriga o Ferry Building, prédio histórico onde funciona um centro de restaurantes e mercados, um boulevard aberto ao público com altas palmeiras e uma linha de bonde elétrico, formando uma região de alta procura pelos turistas que visitam São Francisco.

Foto: Wikimedia Commons/Reprodução

Miami

Uma iniciativa da “Friends of The Underline”, organização sem fins lucrativos criada por uma comunidade de vizinhos em 2014, propôs a criação de um parque urbano sob duas linhas elevadas do metrô de Miami.

O projeto está em andamento e um trecho de 16 quilômetros será revitalizado para que pedestres e ciclistas possam atravessar regiões da cidade de forma segura e rápida. A organização pretende ainda realizar intervenções artísticas nos locais e no momento promove bicicletadas para que futuros usuários conheçam as potencialidades do parque.

Fonte: Gazeta do Povo

Redução da Selic pode impulsionar troca de dívida no crédito imobiliário

Com a expectativa de uma queda maior da taxa básica de juros (Selic), os financiamentos imobiliários com taxas pré-fixadas devem impulsionar a troca de dívidas e a tomada de imóveis por parte dos bancos até 2018.

A expectativa do mercado, porém, é de novas concessões. A rolagem de dívida acontece, principalmente, pelo encarecimento do empréstimo na comparação com os juros atuais.

Diferentemente das contratações feitas com base na Taxa Referencial (TR), os financiamentos imobiliários com taxas pré-fixadas até setembro de 2016, por exemplo – quando a Selic ainda estava em 14,25% -, não estão sujeitos às alterações da Selic, que foi cortada para 12,25% no final do mês de fevereiro.

Ainda somada às altas parcelas, está a incerteza em relação à atividade econômica do País e ao índice de desemprego, que ainda deve crescer no primeiro semestre.

“A probabilidade é que em 2018, quando a Selic já mostrar queda mais significativa, parte dos clientes exerça um movimento mais forte de repactuação de taxas ou portabilidade [troca de dívidas com outros bancos]”, avalia o superintendente executivo de negócios imobiliários do Santander, Fabrizio Ianelli.

Nesse cenário, porém, a inadimplência de 15 a 90 dias no setor dá mais espaço à perspectiva de desistência do imóvel pelo tomador.

Segundo dados do Banco Central (BC), os atrasos de 15 a 90 dias em janeiro frente igual mês de 2016 mostraram aumentos de 3,5 pontos percentuais para pessoas jurídicas e de 1,3 ponto percentual para pessoas físicas.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto Duarte de Abreu Filho, apesar dessa aceleração no retorno de imóveis, “o fundo do poço já passou”.

“Perto do total da carteira esse número ainda é muito pequeno e, ao invés de demonstrar sinal de alerta, mostra resiliência. No ponto que estamos, ainda podemos ver um primeiro semestre difícil, mas não vamos mais piorar”, acrescenta.

O superintendente do Santander, Fabrizio Ianelli, ainda lembra que, mesmo que ainda existam concessões feitas no período de altas taxas de juros, os bancos foram diligentes e, por isso, a disposição de recursos não foram significativas

“Grande parte do funding que lastreia essas concessões é da poupança e tem taxas baseadas em TR, o que limita esse impacto da Selic. A previsão, agora, é positiva”, comenta.

Ressaca. Os executivos reforçam que a qualidade do crédito, mantida pela maior exigência dos bancos pela concessão, garante uma boa perspectiva para o setor. “O primeiro semestre ainda será de dificuldades, mas a partir da melhora macroeconômica o segmento já mostrará alta. Para o Santander esperamos crescimento de até 20% este ano em relação a 2016”, afirma Ianelli.

Para o presidente da Abecip, Gilberto Abreu, porém, o setor, no geral, sentirá este ano como uma manutenção do ano passado. “Apesar do descolamento muito grande da poupança já vemos números muito melhores. Ainda sentiremos a ressaca da crise, mas em 2018 já esperamos falar de crescimento e novos negócios”, conclui.

Contatados pelo DCI, a Caixa e o Banco do Brasil afirmaram, por meio de nota, visões positivas para o segmento de crédito imobiliário. Bradesco e Itaú não responderam até o fechamento desta reportagem.

Fonte: DCI, Economia, 08/03/2017